Disco está disponível nas plataformas de streaming e no YouTube e é resultado de um período de reflexões e pandemia
João Terra
Fonte: culturadoria.com.br
Em: 16.03.21
Dia 13 de março é Dia de Djonga. Já virou tradição. Há cinco
anos tem sido assim, desde o primeiro disco, “Heresia” (2017),
passando por “O MENINO QUE QUERIA SER DEUS” (2018), “Ladrão” (2019)
e “Histórias da Minha Área” (2020). O projeto da vez é o
disco “Nu”, com oito
faixas e participação de Doug Now e Budah. Um dos nomes mais expressivos e
importantes do rap nacional, Djonga,
mais uma vez, mostrou a que veio, compartilhando angústias e sentimentos da
pandemia.
Se tem algo em comum nos últimos tempos, é a angústia. Dessa forma, mesmo falando de vários temas e parafraseando as próprias vivências, a sensação ao fim de cada música é a de “nu” mesmo. Até quem não é mineiro sabe que a expressão serve para demonstrar espanto, surpresa, alívio ou satisfação. Entretanto, para além disso, o rapper afirma que o título do disco também é explicado pelo fato de todo artista estar sempre pelado, mostrando suas contradições.
Capa oficial de "Nu", por Jef Delgado Imagem: tenhomaisdiscosqueamigos.com |
“Quanto mais sucesso, menos divertido / Eu não era assim, sou fruto do meio / Meu coração parece um balde furado / Acho que o vazio me pegou em cheio”, são as últimas frases da faixa de abertura, “Nós”. A música recupera o disco anterior, “Histórias da Minha Área”, que fala principalmente sobre a condição de ser negro em um país racista. Mas também abre alas para falar sobre questões internas adiante.
No entanto, Djonga não suaviza ou relativiza o
discurso. Pelo contrário, se mantém nas origens e se adapta ao momento atual.
Quem segue o artista nas redes sociais deve ter reparado que ele deu uma pausa.
O movimento já vinha acontecendo há algum tempo, mas em dezembro de 2020,
desativou a conta do Twitter e não apareceu mais no Instagram. “Sumi um pouquinho da cena / oportunidade pra
outros brilhar”, diz um trecho da faixa “Ó Quem Chega”, cheia de
referências criticando a política e a sociedade.
Arte oficial de Djonga com a tracklist do novo álbum Imagem: genius.com |
Como não poderia deixar
de ser, a pandemia também dialoga com o universo artístico de Djonga e reflete nas letras. Só para
exemplificar, trazendo a reflexão para o pensamento científico, um ensaio publicado pela Fundação Oswaldo Cruz e assinado por pesquisadoras da Fundação de Pesquisas Urbanas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), mostra que a
população negra e periférica é a mais vulnerável à pandemia. Isso porque o
acesso a saúde, saneamento básico e transporte de qualidade é mais vulnerável. Ou seja, não tem como não pensar nesse aspecto ao ouvir Djonga.
O sentimento de angústia
já citado no início fica cada vez mais forte, principalmente depois da metade
do disco. Muitas pessoas criticaram quando “Nu” foi divulgado, afirmando ser mais do mesmo. Mas quem vive
a realidade da periferia, da favela e da negritude no Brasil sentiu diretamente
a mensagem. Parafraseando algumas letras, é preciso fugir de si muitas vezes
para se encontrar, ou olhar para dentro e para os mais próximos para encontrar
a luz na escuridão.
Em resumo, é muito bom viver na mesma época que Gustavo Pereira Marques e principalmente poder apreciar com empatia a sua música. Afinal de contas, de acordo com ele em “Ó Quem Chega”, “arte é pra ser combustível nesse mundo que tá em combustão”.